segunda-feira, 27 de julho de 2009

Irmandade largada

Aquela casa acaba por fazer-me mal.
Ir lá lembra-me muita coisa... foram 3 anos muito intensos.
O meu irmão fez 13 anos. Está naturalmente enorme, crescido, cada vez com um ar diferente.
Deixou de ser o meu bebé.
Vivi a gravidez dele de uma forma muito presente.
Ele era aquilo que eu sempre tinha pedido aos meus pais, era agora apenas meu meio-irmão mas para mim isso não era nada importante.
No dia que eu fazia 17 anos entrava ele porta a dentro. Eu já o conhecia bem, já tinha estado com ele desde que entrámos no Hospital e ela ficou internada.
Era um bebé amoroso, tratei dele como um filho, embalei-o na sala para que ela pudesse descansar, e amáva-o imensamente. Tinha imenso orgulho de o mostrar às minhas amigas.
1 ano em pleno, de entrega total àquela criança, como se de um filho se tratasse.
Mas a minha vida sempre foi um turbilhão de acontecimentos.
Acabei por deixá-lo com pouco mais de 1 ano de idade... mantive na minha mente que "longe da vista, longe do coração"... mas custou muito.
Um ano depois fiquei grávida e acabou por ajudar à saudade.
Muitas vezes não lhe respondi quando ele me perguntava quando é que ía lá a casa...

13 anos depois sinto que perdi imensa coisa dele, perdi pequenas coisas como o cheiro, aquele amor que nos enche os olhos de lágrimas de emoção quando sopram as velas.
Vejo-o muito mais apegado à outra meia irmã e isso baralha-me o pensamento.
Nada de ingratidão... ainda bem que ela começou a ligar-lhe mais desde que eu saí de casa, como que a recuperar o lugar que eu tinha deixado na vida dele. Um dia ela disse-me que ela lhe falava de mim para que não se esquece-se de mim.
Eles têm uma ligação forte.
Eu tenho pena de os ter largado, a ela também, porque acabámos por viver momentos únicos de cumplicidade e amizade como se fossemos irmãs de verdade.
Mas seria tão complicado se assim não tivesse sido...

Quando o larguei ao ter saído daquela casa, não tinha intenção de o perder de vista... mas a situação complicou-se e entre os adultos e os seus julgamentos, foi aí que tomei a minha decisão de não deixar que o utilizassem como arma entre adultos.

Porque sinto falta de o ouvir chamar mana, da mesma forma que sinto saudades de chamar pai.
Porque não o trago mais para perto de mim, porque não quero me sentir na obrigação de deixar os meus filhos irem para casa dele sem mim.
Porque será sempre uma convivência minada de desconfiança... porque eu sei e porque proteger os meus filhos é maior do que proteger o meu pequeno irmão...
E é uma escolha pouco fácil de digerir.


Era tão fácil ter uma família banal como tantas outras, daquelas que discutem que berram uns com os outros e depois tudo acaba resolvido sem ressentimentos.
A mim calhou-me uma família escondida em segredos, que prima em esconder todos as emoções e nunca falam abertamente, sempre entre suposições e idealismos.
Cansa...
A 3 dias de completar 30 anos de vida, sinto-me presa a um passado demasiado penoso.
A família que me calhou será sempre a mesma, todos precisamos de um pai e de uma mãe, tenham eles os defeitos que tiverem.
Sinto-me presa a memórias felizes que me proporcionavam tranquilidade e felicidade, assim bem pequenas mas daquelas onde tinha um pai e uma mãe e uma casa.
Cansa fazer contas e divisões, quando se trata de pessoas únicas na nossa vida.
Crescemos a pensar que crescemos e construimos a nossa família e pronto. Não! a nossa família também é aquela que nos criou.
Somos uns seres que para além de não terem sido feitos para viverem isolados, conseguem-se multiplicar, assim como o amor se tem que multiplicar, as atenções também, o tempo também.
Depois vemos o tempo a ir-se, tudo a crescer e nós com a sensação de termos feito pouco.

Cheguei a uma etapa da vida que sinto que ainda tenho tanta coisa para fazer, tantas conversas difíceis que não vou querer ter, outras que talvez merecessem a pena ter e tantos perdões já dados a um tempo que me levou parte de mim e que não volta atrás, mas que será sempre uma pedra no meu sapato.

Queria apenas ter que tomar decisões que envolvessem a família que gerei, porque a outra tem tantos fantasmas, tantas falsas-verdades, que não sei se a morte não traria mais verdade ao de cimo, o fim de um capítulo que por mais que eu sentisse falta do seu abraço como antigamente, nunca seria nem o mesmo nem verdadeiro. Se tiver que ser, o meu perdão já está dado porque não o fazer não iria mudar rigorosamente nada, mas julgo que virem pedir a minha decisão demonstraria dignidade para com a minha pessoa. E aí tudo ganharia outro sentido e eu menos problemas.
Apenas não queria que jogassem comigo novamente e não suporto a ideia do meu irmão poder sofrer
com isso.


Apenas problemas meus, às 04h00...

1 comentário:

Rita disse...

Um abraço apertado