quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Hospitalizando os pensamentos


No princípio deste mês, tive um familiar com um problema grave de saúde que acompanhei de perto.
De um dia para o outro foi internado e submetido a uma cirurgia complexa, demorada e sem certezas de sucesso.
Foram dias complicados ao nível de entrega física e psicológica.
Nunca pensei sequer em desisitir, principalmente pelo meu marido.
Nem sempre este homem fez parte da minha vida, mas desde que entrou nela que se manteve sempre ao meu lado, com todos os seu defeitos, tratando-me sempre como uma filha.
Tentei balancear o receio de um desfecho dramático com a esperança da recuperação.
Eu desacreditei, confesso, mas mostrava-me esperançosa para com aqueles a quem este homem chamava de filhos e mulher... para que eles se agarrassem mais à fé do que à descrença.
Consegui acompanhar e apoiar sem me tornar numa estranha.
Bebi o máximo de informação, absorvi o mais que pude emoções e sentimentos reais de pessoas verdadeiras.
Num Hospital é possível aprender-se tanta coisa...
Senti-me constantemente em formação.
Olhares de pessoas que viveram vidas diferentes e que se vêm em camas de um Hospital, dependentes de terceiros, pessoas que olhando bem para o fundo do seu olhar se consegue perceber que alcançaram a oportunidade de aprender que nesta vida ninguém pode jamais viver isolada, achando que consegue tudo sózinha.
Consigo ver tudo isto e sentir todos aqueles sentimentos.
Identifico crianças carentes e com um quê de mimo em homens e mulheres danificadas pela dor da doença.
Olho para pessoas que dão parte da sua vida para conversar com desconhecidos, de forma a que a sua estadia numa cama de Hospital lhes pareça mais humanizada, chamamos estas pessoas de voluntários.
Conheço auxiliares que mesmo cansadas da sua rotina, esboçam sorrisos e têm conversas amistosas com desconhecidos doentes.
Falo com enfermeiros que me fazem acreditar cada vez mais que se trata de uma classe médica que tem tanta importância na Saúde, que nem precisam de se intimidar com médicos recém formados peneirentos e cheios de teorias inoperacionais na nossa realidade.
Ouço médicos cientes da realidade, directos com a nossa realidade e humanos nas suas atitudes, gente com as teorias da faculdade bem assentes na prática, homens e mulheres experientes em doenças, em curas e nos insucessos da sua profissão.
Gosto deste misto de sentimentos e conhecimentos.
Ninguém nasce ensinado, nem para uma profissão, nem para sofrer uma maleita.
É preciso saber curar, mas também é preciso se saber ser doente.
Em ambas as situações o respeito é crucial.
Estes dias em que diáriamente estava no Hospital, ouvi lágrimas, senti corações de mães aflitos e vi olhares doentes ou doloridos... mas também engoli muitas lágrimas minhas, porque em todas essas situações me pude ver um dia... nunca ninguém está livre de nada.
Na zona da pediatria não entrei.
Mas como mãe, não consegui evitar de sentir uma mãe em especial, com quem me cruzei numa outra visita a outro entre querido que também estava hospitalizado. Esta mãe que não podia ir para casa já há 2 semanas, e tinha um filho de 3 anos e uma filha de 4 anos... e quando eles foram ver a mãe ao elevador eu estava a entrar nesse mesmo elevador... e naquele momento não consegui deixar de sentir aquele coração de mãe ao abraçar os seus filhos... e enquanto as portas do elevador se fechavam as lágrimas rolavam na minha face...
Trouxe muita coisa comigo daquele Hospital.
E a vontade de fazer um voluntariado naquele meio ficou ainda mais aceso em mim.
Um bem haja a todos os profissionais do Hospital de Santa Maria!
Que me fizeram ver que os Hospitais Públicos não são um bicho papão... sinceramente não senti diferenças humanas com os hospitais privados que conheço.

5 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente já cai, ou melhor acompanhei o meu marido a uma urgência de um hospital, devido a um problema "grave" que lhe foi diagnosticado nessa altura...e tambem fiquei com essa impressão, são pessoas excelentes que nos tratam com muita humanidade têm sempre um sorriso, uma palavra.

Beijinhos

isabelvieira

Cláudia Costa disse...

Olá Di,
Fico feliz por teres voltado.
Já estás nos meus favoritos.
Beijos e até já.
Cláudia Costa

Anónimo disse...

Um novo olá e olhar para tua história miga...

Que bom que tens boas experiências para contares com essa passagem...

Eu espero não precisar tão cedo do público.Não tenho boas memórias!

Melhoras na família e bjs

Pemi disse...

Fiquei contente com o retorno,gostei do que li, tb eu tive uma passagem pelo hospital publico muito rápida devido ao acidente a aquilo que me apercebi é que muito está modificado. As atitudes mudaram para muito melhor.
Beijinhos
Daniela - Pemi

Podes visitar-me aqui http://unhaspintadas.blogs.sapo.pt/

Unknown disse...

É a ler relatos como o teu que me convenço que ainda há esperança para a nossa Saúde.
Beijocas e espero que o teu familiar esteja melhor.
Beijocas